Estamos em circulação.
Durante a caminhada, a trilha traz surpresas. Cascalho, mato, lama,
água, pasto ou cimento podem estar na sustentação da nossa
trajetória. Para cada passo, uma forma de pisar, uma respiração e
um olhar. E assim acontecem as experiências.
O percurso revela uma
infinidade de caminhantes. Aos poucos, conforme sentimos o chão,
pessoas são identificadas, seus rostos ganham feição. Caminhantes
lado a lado, ora necessitamos apoio, ora basta um empurrão. Pode ser
que não tenhamos o que dar em troca ou que o carinho seja uma
boa fonte de energia. Em muitos casos, não se compreende o que
tantas vozes dizem. Vez por outra, captamos os sinais
com uma leve movimentação de dedos, braços ou quadril. É tudo
sutilmente esvoaçante.
No correr do caminho,
acontece de as pessoas terem ritmos, velocidades e direções
diferentes. Há quem chegue na frente e também quem tropece ou
desmaie. Há quem cumpra sua jornada e deixe de vez a longa estrada.
Há quem morra ainda em vida, virando logo ali em outra pista.
Também nessa estrada
há abismos e planícies. Os abismos, profundos e escuros, nos
revelam a crise e a realidade do percurso. As planícies, levemente
assombreadas e frescas, nos oferecem oportunidade para respirar,
observar, analisar, compreender, pactuar ou discordar. Quando alguém
desvia seu rumo do nosso, sofremos e nos sentimos diante do
abismo. O caminho em conjunto estava bom e cômodo. A dor é imensa.
Para aproximações ou
abandonos, não há explicações plausíveis ou que sequer estejam
acessíveis à nossa racionalidade. Aconteceu, o luto está por vir.
Lutamos com as dores das transformações e, sem notar, nos
posicionamos a um passo da próxima parada: a planície.
É no limiar que ocorre
o luto. Velamos os que nos deixam e sentimos muito – por nós e por
eles. Os enterramos. Nos despedimos em pensamento. Delírio e realidade se confundem, é quando tentamos recuar. Garantimos os sonhos mais lúdicos, mas padecemos de desilusão ao despertar.
Pouco a pouco, desejamos novamente fincar os pés na terra. Quem sabe, voar? Quando seca o choro, gota a gota da lágrima que caiu é transmutada
em sinais de tranquilidade. Isso, contudo, é sem adiantamento. Só há modos de esperar.