sábado, 22 de maio de 2010

josé de souza martins em minha vida

O conheci nas aulas de Mídia e Política do mestrado em Comunicação. Seu nome estava na bibliografia de um livro adotado em classe. Busquei "a sociabilidade do homem simples", o "trabalho cessante" e a "fronteira". Pouco ou nada entendi. Até que um dia ele veio à UFG ministrar Aula Magna para o Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Fui lá "curiar".

Apaixonei-me! Aquele senhor da pinta no rosto, do olhar severo e da cara de bravo, quando narrava histórias, demonstrava uma doçura e uma generosidade sem tamanho. Algo, aparentemente, desproporcional e que sequer estamos acostumados a ver na Academia. Ao mesmo tempo em que ele rompia qualquer ideia de falsidade formalista, não deixava de explicar sua rígida base teórica.

"Parede, ainda te livro dessa brancura", ressaltou José de Souza Martins, lembrando de um dos atos de subversão que já viu nesse dia-a-dia sufocante de todos nós. "É isso!", pensei, sobre o que eu precisava ouvir. A subversão de viver e de escolher como se vive, em cada traçado do vivido.

Ele também falou do saber popular, da percepção antropológica, dos cadernos de campo de Carlos Rodrigues Brandão, do que devemos aprender com as "linhas tortas" e de como a ciência pode olhar para tudo isso. Com esperança, concluiu. A esperança do que não é dual, mas sim triádico: alienação - desalienação - alienação; percebido - concebido - vivido. A construção da vida em três atos e em uma circularidade que não se esgota.

Ao final da palestra, aceitou dar entrevista. Mas pediu: "não me faça perguntas difíceis". A partir daí trocamos três e-mails. O Leo, meu companheiro, me ajudou a formular as perguntas. E explicou o que cada uma de suas sugestões queria dizer. A Maria José, revisora da Assessoria de Comunicação da UFG, minha amiga de trabalho, também deu dicas valiosas. Aliás, foi ela desde o início quem me incentivou a procurá-lo. Mesmo tentando e tendo auxílio de gente tão especial, não consegui sair da superficialidade jornalística dos tais questionamentos difíceis que, na verdade, são difíceis de responder em poucas linhas.

Sempre que eu terminava de ler os e-mails respondidos por José de Souza Martins, me caia uma lágrima. Sim, eu choro a toa. Mas é que me vinha uma ótima sensação de aprendizado que não podia segurar em mim. Tinha que sair, de alguma forma. Em cada possibilidade de troca, ele me dava uma lição. Ora em forma de sim, ora em forma de não.

E foi nesse senhor que mergulhei durante mais de um mês. Retornei às leituras anteriores, aos confins do humano, aos cheiros dos operários, aos sonhos dos trabalhadores móveis, à pedagogia dos inocentes. Lembrei muito das experiências tão calorosas com a garotada no Setor Shangri-lá, da TV Lambança na Escola, das Narrativas Amazônicas com meus queridos de Vilhena. Pude, de maneira ainda precária, associar seus escritos com a minha própria vida. Retornei à palestra. Mandei novas perguntas, mas ele não pôde mais responder, por falta de tempo. Entendi perfeitamente, outras pessoas também precisam dele.

Descobri ainda que, mesmo lendo e relendo, era difícil falar sobre ele. Talvez, eu devesse me dedicar longos anos para, depois de madura, escrever. Mas havia uma editora me esperando. Percalços do jornalismo.

Ao terminar o trabalho para o Jornal e para o portal da UFG, concluí que foi um dos meus melhores momentos em 2010. Encontrei um mestre, de verdade. Daqueles que não precisa de vínculo institucional para educar. Daqueles livre-pensadores vivos que tive a grande oportunidade de olhar nos olhos, ainda que por poucos minutos. Daqueles seres humanos cheios de contradição que não passam pela vida com brancura, mas sim com sinceridade. Daqueles educadores que me mostram, indireta e subjetivamente, que quando se encerra um trabalho é que chega a hora de começá-lo, de fato.

Muito provavelmente eu ainda não tenha entendido o que é o método regressivo-progressivo de Henri Lefèbvre ou a Sociologia do Cotidiano, mas não deixo de me entusiasmar com a possibilidade de seguir com a presença simbólica desse senhor em minha vida.

Obrigada, professor!

terça-feira, 18 de maio de 2010

padrão

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Quando vejo que meus colegas, amigos e conhecidos se comportam todos de modo muito similar, com os mesmos cacoetes e as mesmas “autoironias”, me identifico muito e, em seguida, penso: “jornalista é tudo igual”. Mas aí brota uma dúvida cujo significado eu gostaria que servisse como, digamos, autocrítica coletiva: até que ponto esse comportamento de tirar onda consigo, da mesma forma que se tira com o outro, é, de fato, uma avaliação sincera? Não seria mais um caso jornalisticamente patológico de desrespeito próprio e, sobretudo, com o outro? O que queremos com as pedrinhas e os chicotinhos que nos jogamos todos os dias? Não seria uma vaidade daquelas pra pessoa passar a mão na nossa cabeça e dizer: “que isso, não fica assim, você é genial!”?

(?)