quarta-feira, 8 de julho de 2009

voltei a cantar, meio mambembe, porque sou dura na queda! (sempre quis dizer isso, de alguma maneira, mesmo sem saber...)



Voltei a cantar
porque senti saudade
do tempo em que eu andava pela cidade
Com sustenidos e bemóis
Desenhados na minha voz
E a saudade rola, rola
Como um disco de vitrola
Começo a recordar
Cantando em tom maior
E acabo no tom menor

Voltei a cantar
porque senti saudade
do tempo em que eu andava na cidade
Com sustenidos e bemóis
Desenhados na minha voz
Ó meu samba, velho amigo
Novamente estou contigo
Uma vida me transtorna
Como um filho à casa torna
De ti nunca me esqueci

No palco, na praça, no circo, num banco de jardim
Correndo no escuro, pichado no muro
Você vai saber de mim
Mambembe, cigano
Debaixo da ponte
Cantando
Por baixo da terra
Cantando
Na boca do povo
Cantando
Mendigo, malandro, muleque, mulambo bem ou mal
Cantando
Escravo fugido, um louco varrido
Vou fazer meu festival
Mambembe, cigano
Debaixo da ponte
Cantando
Por baixo da terra
Cantando
Na boca do povo
Cantando
Poeta, palhaço, pirata, corisco, errante judeu
Cantando
Dormindo na estrada, no nada, no nada
E esse mundo é todo meu
Mambembe, cigano
Debaixo da ponte
Cantando
Por baixo da terra
Cantando
Na boca do povo
Cantando

Perdida
Na avenida
Canta seu enredo
Fora do carnaval
Perdeu a saia
Perdeu o emprego
Desfila natural

Esquinas
Mil buzinas
Imagina orquestras
Samba no chafariz
Viva a folia
A dor não presta
Felicidade, sim

O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas

O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas

Bambeia
Cambaleia
É dura na queda
Custa a cair em si
Largou família
Bebeu veneno
E vai morrer de rir

Vagueia
Devaneia
Já apanhou à beça
Mas para quem sabe olhar
A flor também é
Ferida aberta
E não se vê chorar

O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol,a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas

O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas

***Ouça "Carioca", do Chico!


terça-feira, 7 de julho de 2009

emblemático

Sob a mangueira, um carro azul petróleo esperava seu dono, parado. Os galhos longos das árvores lutavam com os raios de sol, reproduzindo uma sombra um tanto brilhante. Na rua de frente, o Parque Mutirama. Ao lado, um colégio de freiras. E ninguém passando.

A rua 55 parecia mais sossegada que o normal. Acostumada a passar todos os dias nessa esquina e ouvir gritaria de criança, berros de buzinas e moços da construção sussurrando "fiu, fiu" pras mulheres que passam, estranhei. Dia bonito, porém enfadonho, desde cedo. Preguiça de julho. O ar seco do cerrado dava sono e a caminhada estava mais lenta que o normal, sem muitos espectros em observação, sem novidades na rotina, sem mais vontade de chegar ao destino final, o trabalho.

Eis então que volto meu olhar para o carro azul. Novamente. De novo. Outra vez. Não acreditei em como não pude perceber aquilo de primeira. Estava lá, na vidraça traseira do veículo, gritante, em amarelo, uma expressão que aqui em Goiás vale pra mil coisas, inclusive, pra definir a pasmaceira nostálgica daquele cenário:

- Cê sumiu uai!

Sem mais vírgulas ou delongas. Acrescentaria apenas um "Ou..." no início do enunciado, caso a frase fosse minha. Afinal, goianês de verdade tem que perguntar por onde anda todo mundo na ordem indireta.

domingo, 5 de julho de 2009

uma correspondência do seu tempo

Numa caixa de entrada:

Remetente - Marcelo
Assunto - "eu também não acreditava"

Clique aqui!

Correio diz...

Patricia,

Temos informações importantes a seu respeito que você não pode deixar de saber e que farão muita diferença na sua vida!

E como já te conhecemos, temos certeza que você não vai deixar a oportunidade de descobri-las escapar...

Tenho certeza que você vai adorar o Zastros e se surpreenderá ao ver todas as informações que temos a seu respeito e que você precisa saber.

Clique aqui!

Sair da caixa de entrada. Operação realizada com sucesso!

...

Então pensei que Pierre Musso tem certa razão. O ciberespaço é um céu e as informações que circulam nele um oráculo, uma reunião de trocas simbólicas que religam nossas enfermidades, nossas esperanças e o que queremos construir da vida. Um simulacro daquilo que já interpretamos e reinterpretamos da casa pra rua. O ciberespaço recompõe a prática do "religare", da religião, reconstitui a idéia de técnica como extensão do corpo humano, cria mitos e consolida verdades cristalizadas que podem também ser chamadas de ideologias. Ah, como tenho falado nisso, pensado nisso, vivido isso! Está até enjoativo.

Nosso lastro com aquilo que não sabemos de onde vem, mas que acreditamos mesmo assim, já foi tanta coisa... uma série de instituições. E agora? E agora é a rede, é a ligação de vários cérebros por meio de várias máquinas, criadas por cérebros. E nessa "utopia reticular", interligada ponto a ponto, eis que uma empresa (ou um endereço virtual, como preferir, ou ainda um conjunto de cérebros que formam uma partícula dessa tão majestosa rede) ousa mandar-me uma correspondência dizendo que sabe tudo sobre mim e que é melhor eu clicar num link, abrir uma porta, mergulhar na virtualidade (que, aliás, é extremamente real), seguir seus passos, para garantir meu bem-viver, meu auto-conhecimento.

A rede sabe mais de mim do que eu mesma. E a prova disso é que eu vou à terapeuta uma vez por semana. Ela (a rede) não.

mãe

Ela faz coleta seletiva de lixo desde sempre e me ensinou a ler Paulo Freire. Por isso a amo tanto!

pai

Ele aprendeu a fazer bolo de arroz aos 60 e me traz cerveja no quarto. Por isso o amo tanto!