sábado, 9 de outubro de 2010

secura

A racionalidade me secou. Sem entusiasmos, sequer sei ligar o gravador. Travei na entrevista. Diante de um senhor que diziam ser o “mito” da Filosofia da História, sucumbi. E não tive ganas de vencer as mãos suadas e nem a mania de pequeneza. Não logrei ser intrépida repórter. A escolha dos 17 anos me traiu. Não existe mais, em verdade. Não consigo fazer perguntas vazias, nem preenchidas. Nem profundas, nem rasas. Tanto faz. Sem poupar o figurão, somente para ter uma página no jornal? Não. Mas essa não era a questão. A questão é que eu tive medo e pouca força para vencer o medo. E só.

Sequei também com os amigos. Não suporto mais nem os modernos e nem os pós-modernos. Tudo muito pesado. Não consigo falar só de marido e nem só de espiritualidade. Nem só de política e nem só de universidade. Discussões políticas, aliás, partem frequentemente para a ignorância. Problemas dos outros até que escuto, mas logo me lembro da terapeuta e aí... começo a “psicologizar” a conversa. O que não é agradável. Mais uma vez, com uma racionalidade seca, dura, pendente de sentimentos. Sentimentos que tento segurar, pela primeira vez na vida.

Hoje olhei para o rosto da minha mãe, ela está envelhecendo. Essa é minha grande preocupação do momento. E também tento conversar com meu pai algo além de Dilma versus Serra – afinal, essa é uma efeméride. Queria falar também das minhas angústias, mas não dá muito certo. Falta tolerância de alguma parte. Suspeito que seja a minha. Comigo mesma.

E tem mais coisa que dói (e aí, a essa altura, confundi a secura com a dor; ainda que venha tentando manter a apatia). Dói o coração, o peito, os cabelos, o pescoço, os olhos. Cortei o cabelo para ver se me animo. Talvez adiante. Ele não está aqui. E talvez nunca tenha estado. E o que fizemos para mudar? Padecemos. A distância insistiu por secar a orquídea, tão difícil de sobreviver. Mas, vai ver que nada disso importa, de fato. Estou seca. E a razão me consome. E é isso aí.