quarta-feira, 1 de julho de 2009

e a gente discutindo sobre Michael Jackson!

Mais uma vez o atomismo da dita pós-modernidade e as causas deveras particulares da "sociedade do espetáculo" (usando a expressão de Debord) nos condena, nos retira a cidadania, a consciência e a noção de vida política. Enquanto isso, a força reacionária da crise mundial comanda, cresce, forja e avança. E isso é pura panfletagem mesmo!

Você sabia?

"Manuel Zelaya fue arrestado de su casa por militares el domingo 28 de junio. Lo llevaron a Costa Rica. El secuestro fue 2 horas antes de la realización de una "consulta popular" para decidir si en las elecciones de noviembre se vota por convocar a una Asamblea Nacional Constituyente que reforme la Constitución. (PÚLSAR)"

Onde vamos parar, desse modo, discutindo se Michael Jackson era pedófilo ou não, se ele deve ser enterrado em Never Land ou não, se ele era negro ou não, enquanto Honduras sofre um golpe de Estado?

Hã? Honduras? Onde é mesmo? Mas o Haiti não é aqui?

Ainda bem que lá foram para as ruas. E cá a informação se espalha rápida e informalmente.

Sugestão de leitura:

"O Biscoito Fino e a Massa": www.idelberavelar.com
"Agência de Notícias Pulsar": www.agenciapulsar.org
"Blog do Elboby": www.elboby.com

terça-feira, 30 de junho de 2009

papo pra toda obra

Uma livraria, geralmente, é ambiente retrô de alta cultura. Cheira a café, tem cortina amarelada e conversas sussurrantes sobre Machado de Assis, Carlo Ginzburg ou Paul Ricoeur. Certo? Errado. Isso é puro estereótipo!

Há aquelas que já encaram a forma das lojas de departamento, com som alto do último lançamento da banda pop em DVD, cheiro de plástico e livros coloridos apontados como best sellers pela Veja. Há as que estão na esquina de uma rua suja do centro da cidade e vendem tudo a um real, inclusive LPs dos Beatles. Há as que se especializam em livros jurídicos, médicos ou religiosos. As que rasgam páginas com dedicatória; as que não rasgam; as que trocam obras usadas por novas e vice-versa. E há ainda aquelas livrarias de todos os dias, que nem sempre os livros são a atração principal - por incrível que pareça - mas que valem por um mês de observação.

Nesse útlimo tipo, você fica mais à vontade e, juntamente com a leitura, as trocas simbólicas, as compras, você toma um mocaccino da máquina e ouve vozes eloquentes sobre qualquer coisa, inclusive sobre o que nunca imaginaria encontrar naquele local:

- É um signo difícil, todo mundo me fala isso, que Leão é arrogante e gosta de aparecer! - Empurrei a porta de vidro de uma das livrarias da UFG e dei de cara com um amigo pronunciando, exatamente, essa frase.

Signo? Falavam de semiótica?

Leão?

Hum, não. Era astrologia mesmo.

Logo entrei no assunto, claro, defendendo os leoninos. E parei na fila do café, ao lado pra prateleira do Cinema. Atrás de mim havia um garoto, que tampouco titubeou para se infiltrar na conversa e defender os aquarianos. Meu amigo, que parecia dominar o papo, era Aquário com ascendente em Leão e fazia ali uma micro-análise de sua personalidade para duas garotas.

- Ê, fulano, o papo de sempre, hein? - Não resisti, brinquei.

- Pois é, daqui uns dias vão escrever "O que é Astrologia"! - arrematou ele, fazendo menção àquela coleção "Primeiros Passos".

Batata! Ops, Sol em Vênus! Não lançaram "O que é...", mas o assunto rendeu para a livraria inteira. E todos começaram a apontar as características do leonino, do aquariano, do libriano, do virginiano, como se a disposição dos astros no dia do nascimento de alguém pudesse dar sentido a toda a complexidade de uma história de vida.

Claro que não pode ser determinante, mas que é um tema corriqueiro, é. E que reúne as pessoas, reúne. É algo comum a todos, que tem um conceito prévio e uma coincidência pronta a ser emitida. Algo que qualquer pessoa pode dizer, desdizer, palpitar. E isso é maravilhoso, me perdoem os intelectuais que ainda incorporam as luzes. Porque horóscopo e adjacências servem pra isso: você sabe que, numa roda de conversa, quando surge o tema, há grandes chances de encontrar uma pessoa com a angústia do tamanho da sua e que ambos tratarão de explicá-la com base no Zodíaco, num ponto cultural e ideológico em comum, no senso comum. Uma unidade determinista sem tamanho. Mas leve, possível e passível de brincadeira.

Em tempos de atomização das causas, compreender o que o acaso lhe reserva pelas linhas do horóscopo é uma boa, uma relax, uma tranquila. Por que não? Um "ópio" de pouco disfarce que serve, pelo menos, para reunir as vozes da livraria.

Engano? Ah, existem por aí tantos enganos certos, definidos, cartesianos, holísticos, diagnosticados, experimentados, teorizados e, até, transformados em livro... que considerar que constelações podem realmente definir seu destino vira diversão! Já disse. Quando não se sabe o que falar, quando não tem muito pra opinar ou provocar, lance ali o chavão, que vai dar certo.

Qual seu signo? I Ching? Kin? O correspondente no calendário da paz? (essa última aprendi há pouco tempo e me falaram com tanta seriedade que me convenci mais ainda de como estamos sempre presos em nossas próprias farsas, mas tudo bem!). Todos olhando para o céu para explicar aquilo que, no percurso dos dias, vira drama e não tem explicação. Porque é o que ocorre, suponho. A vida é tão igual e dura para todos que encontrar alguém com experiência semelhante à nossa tem ar místico, exotérico, esotérico, pulsante, aromático, orgânico, sintomático. Como um livro e um café. Como o Sol, as estrelas, os planetas e a oralidade dos costumes e da cultura de todas as rotações e translações.

E não venha me dizer, você que lê Nietzsche, que nunca procurou saber sobre a casa por onde passa sua Lua!