sábado, 29 de agosto de 2009

suspirando por aí

Apaixonar-se. Pela vida. Pelas pessoas. Pelas energias. É muito bom. Tanto, que não consigo negar, por mais que tente. É abandonar os racionalismos forçados e deixar-se estar despudorada, à flor da pele, deixar-se levar. Como antes. Como sempre. Assim, cada dia fica maravilhoso, cada chuva é de esperança, cada contato com o outro vira um olhar estreito para o amanhã.

O "tempo de absoluta depuração", como diria Drummond, fica para trás. Agora é hora de sorrir e, mais ainda, de sentir. Sentir-se. Sentir-me. Sentir-nos. Todos nós, em nossas lutas, nossos desejos e nossas decepções.

É bom estar apaixonada. Melhor ainda é perceber que esse estado de espírito não passa nunca e pode ser despertado muito facilmente - por todos e todas. Se for olhar para trás, pelo menos cinco vezes me senti apaixonada na última semana. Pelo menos cinco pessoas totalmente diferentes me despertaram esse prazer contemplativo que é a paixão. Piegas? Forte? Extrema? Sim. A paixão em tempos de racionalidade não faz parte do cardápio. Faz doer. Todos evitamos. Mas, é sensação de plenitude que nunca fica longe. Ou, ao menos, nunca deveria estar.

Hunf!

Obrigada, gente! Gente nova e gente velha que está nessa vida, por me fazer passional, com todo o meu espírito e todo o orgulho do mundo. Obrigada quem me faz (ou fez) aprender a viver, aprender e viver. Quem nunca mais vi e quem ainda virá. Sentir-me apaixonada é isso: agradecer, valorizar, estar pronta para mais outra leva de emoções. Com vocês, é claro!

cimento, cola e outros

- Olhe para essa parede. Como ela foi construída? Há tijolos e cimento, não?

- Sim!

- E o cimento é que gruda um tijolo no outro, certo? Então, o cimento é que mantém a estrutura da casa. Não é? Não fosse o cimento, a casa não estaria de pé e as pessoas não estariam nela vivendo.

(silêncio reticente)

- Assim é também a ideologia. Ela é o cimento da estrutura, que faz com que a base (economia) se mantenha unida à superestrutura (política, cultura, religião, artes, senso comum, poder coercitivo). Então, quando digo que o cimento é a ideologia, de que ele é feito?

- Do discurso dominante.

- Sim. De quem quer manter a estrutura funcionando. Nessa casa, vivem todos os tipos de pessoas, as que concordam como o modo com que ela foi feita (a maioria) e as que não concordam. As que não concordam vão tentar mudar esse cimento, sempre.

- E vão, às vezes, ser expulsas, ignoradas, retaliadas ou ridicularizadas, pois o cimento faz parte delas, as fez também, de certa maneira...

- Será? Não, o cimento não as fez. Mas, o cimento há muito tem se tornado cola. E cola é plástica, é pegadiça e, dependendo do que é feita, pode nunca mais desgrudar.

- O cimento virou cola... essa eu gostei!

- Entendeu, querida, o que é ideologia no mundo de hoje?

(...)

Radicalidade. Foi o que senti, estando ali. Que, por mais que o mundo fosse contraditório, por mais que todos nós tenhamos nossas incoerências e nossos desmandos, aquela pessoa se mantinha, de alguma forma, bastante igual ao que sempre foi. Não atualizou seu discurso? Parou no tempo? Ou experimentou a radicalidade, de fato, como diria Paulo Freire? Aquela radicalidade do amor, de quem reconhece seu papel no mundo, escuta os outros e compreende, mas não muda o tom do pensamento. E, assim sendo, o que condizia para um mundo de trinta anos atrás, também corresponde ao hoje, com os sofrimentos e as alegrias dos tempos atuais. De cimento para cola, certamente. E a lição, depois de três horas de conversa foi uma: fazemos parte de um projeto maior e, por isso, de cimento e cola, podemos transformar ideias e comportamentos em outro fluido. Geleia de uva, cobertura de chocolate, ayuaska, chá de coca, babosa, urucum, jatobá...

(...)

"Podem me prender, podem me bater, podem até deixar-me sem comer. Que eu não mudo de opinião".