terça-feira, 2 de novembro de 2010

contra a assepsia

Prólogo

Logo depois do resultado das eleições presidenciais, uma chuva de comentários preconceituosos, tortuosos, limitados, violentos, xenófobos e algo mais emporcalhou a rede, atribuindo a "culpa" da vitória da candidata do Partido dos Trabalhadores aos "pobres" do Norte e do Nordeste. Pude acompanhar, com vergonha e revolta, algumas dessas opiniões no Twitter e no Facebook. E resolvi me manifestar.

Ainda que eu tenha defendido o voto nulo durante todo o processo de pleito, por considerar que esse sistema de representação não é tão democrático como supomos, sei que esse resultado é legítimo e também é o "menos pior" que poderíamos ter. Se foram os estados das regiões Norte e o Nordeste que elegeram Dilma (sabemos que não foram apenas, mas...), o fizeram muito bem; com consciência de classe. Parabéns ao povo brasileiro!


Contra a assepsia da opinião

A burguesia pensa que foi bem formada só porque estudou em colégio pago e fala 3 idiomas. Mas é justamente aí que está o engano: falta autocrítica, falta olhar para a história, falta compaixão. Isso ninguém ensinou!

Insinue que um burguês é "ignorante" e veja a selvageria se revelar! A pseudocultura foi dura com ele, pois o fez comprar livros e perder o estímulo à própria leitura; o fez reunir bens simbólicos, como mercadorias, e também sucumbir ao próprio fetiche de tentar parecer um fatídico e já morto aristocrata. Muita lástima para uma alma degradada e copiosa que investiu tanto, mas que, contraditoriamente, pouco "acumulou".

No Brasil, a elite do Centro-Sul nega o Nordeste, nega o Norte, nega que os pobres possam ser lúcidos ao fazer suas escolhas e conduz a cultura popular ao status de exótica e desfrutável. Quando, em verdade, está a negar sua própria brasilidade, sua própria história de migrante, a dor da origem colonial, a violência do parto bandeirante e, no presente, sua própria impotência ao escolher.

Além de estar perdendo a hegemonia (assim, pelo menos, eu espero), a burguesia do Centro-Sul também está a revelar a dupla-face de sua boa educação: fascista, ignorante, violenta, individualista e totalitária. Diz que não é partidária, ignora a militância, faz questão de expor seus desejos de paz e assepsia, mas também mostra toda a consciência de classe que nunca teve: a consciência dos que defendem a riqueza - e para poucos!

Mas, não vamos estimular ainda mais a violência. "Vamos pedir piedade..." e perdoar essa gente que não sabe o que diz, pois se fez surda, cega e sem sensibilidade. Vamos, sim, seguir na luta, simbólica e cultural, por uma educação verdadeiramente popular! E a história se encarrega do restante.