domingo, 2 de agosto de 2009

"foi um rio que passou em minha vida...

... e meu coração se deixou levar!"


O ciclo fecha, a fase passa, a vida segue. E você abre as cortinas, pensa bastante, repensa, respira e decide. Sente a mudança. Muda de idéia. Tanta coisa que até a noite anterior estava estanque, certa, estagnada e definitiva, hoje não faz o menor sentido. Um turbilhão que transborda o espírito. Um olhar diferente para o de sempre. O sol bate pela manhã nos galhos das árvores e revela nesse porvir que o tamanho da ilusão foi também o tamanho do sonho.

(Não, não é preciso, assim, parar de sonhar. Basta apenas acordar, virar para o outro lado, sonhar de novo, com algo que não seja o mesmo).

As roupas velhas saem do armário. Os livros amarelados descem da estante. Os objetos pouco lembrados saem da caixa de papelão. E tudo ganha outra cor, outro tom, outro recorte. Não basta mais dizer por dizer, fazer por fazer. Tem de viver verdadeiramente o que se julga e se preza. Por isso é que a opção pela mudança se faz. O que se nega é a repetição, o continuismo, a escravidão das próprias idéias.

Os lugares de antes servem agora para fazer valer as coisas de amanhã. Aquelas praças de antes, bem ou mal vividas, chega! Da mesma forma, o sabor: de costumeiro passa a surpreender. É chegada a hora. Que bom! Lá pelo meio dia, velhos discursos recebem um não. Costumes contraditórios ficam mais que nunca contraditórios. E é tudo tão claro... como nunca!

A vida, ah, a vida... a vida não é da coletividade, da decisão conjunta organizada pela racionalidade. A vida pode ser também da individualidade, do que reclama o sentimento, do que é da vontade, da sinceridade. E se antes isso pouco importava, hoje, nesse sol escaldante, é a única força a ser movida. Jogar diante do grupo? Ter um grupo? Exigir direitos para esse grupo? Não. A saciedade virá pelos limiares, pelo próprio rompimento. A atitude particular da transparência e da honestidade dão outro toque para "o ato de respirar conjuntamente" que Guattari um dia chamou de "conspiração".

Novos olhares. Sim para os novos olhares, para as novas interpretações e percepções! Sim aos sentimentos pouco escutados, guardados, sufocados, desvalorizados diante do movimento das causas tão perfeitas e tão quadradas!

Saudades? Não. Nada deixa saudades, tudo está a recomeçar. Sem as sucessivas incoerências, é bom ressaltar, e com uma leve esperança. Sob a perspectiva de que uma porta se fecha, outra janela se abre, a poeira se esvai, os olhos piscam velozes, os calos são ressaltados, os sinais do tempo também. E o aprendizado não caminha mais sozinho, sem que seus impulsos, seu coração e sua mente o acompanhem.

É tudo uma fase, um ciclo, água do rio que corre, um coração que se deixa levar.