segunda-feira, 24 de maio de 2010

web 5.0

Energia, ideologia, comunicação, linguagem, padrão, temores, desespero: tudo é renovável.


“Ó Tipografia! Como distorcestes a paz da Humanidade”
Andrew Marvell (1672)



Cavalos, estradas, eletricidade, cabos, telégrafo, rádio, telefone, transístor, computador.
E o que mais as nossas crenças permitem impor?


“Avante! Vapor ou Gás, ou Carruagem
Mantenha a Cabine, pequena gaiola dirigível –
Passeio, Jornada, Viagem, Ócio, Corrida, Caminho,
Planar, Projetar, Excursionar, Papear na Viagem –
Mover-se, você deve! Esse é o desejo de hoje, Lei e moda atual”
Samuel Taylor Coleridge (1826)

domingo, 23 de maio de 2010

retirando as cascas da cebola

Ao retirar de nós os fiapos que nos envolveram em cinismo, soberba, fragilidades, autoengano e dor, passamos a reconhecer como legítimo um profundo - e até conformista - estado de inquietude. Contradição, exista!

O Desassossego em Livro e prosa poética, por Bernardo Soares e/ou Fernando Pessoa.

9.

Ah, compreendo! O patrão Vasques é a Vida. A Vida, monótona e necessária, mandante e desconhecida. Este homem banal representa a banalidade da Vida. Ele é tudo para mim, por fora, porque a Vida é tudo para mim por fora. E, se o escritório da Rua dos Douradores representa para mim a vida, este meu segundo andar, onde moro, na mesma Rua dos Douradores, representa para mim a Arte. Sim, a Arte, que mora na mesma rua que a Vida, porém num lugar diferente, a Arte que alivia da vida sem aliviar de viver, que é tão monótona como a mesma vida, mas só em lugar diferente. Sim, esta Rua dos Douradores compreende para mim todo o sentido das coisas, a solução de todos os enigmas, salvo o existirem enigmas, que é o que não pode ter solução.

17.

São horas talvez de eu fazer o único esforço de eu olhar para a minha vida. Vejo-me no meio de um deserto imenso. Digo do que ontem literariamente fui, procuro explicar a mim próprio como cheguei aqui.

23.
Absurdo

Tornarmo-nos esfinges, ainda que falsas, até chegarmos ao ponto de já não sabermos quem somos. Porque, de resto (2), nós o que somos é esfinges falsas e não sabemos o que somos realmente. O único modo de estarmos de acordo com a vida é estarmos em desacordo com nós próprios. O absurdo é o divino.
Estabelecer teorias, pensando-as paciente e honestamente, só para depois agirmos contra elas - agirmos e justificar as nossas acções com teorias que as condenam. Talhar um caminho na vida, e em seguida agir contrariamente a seguir por esse caminho. Ter todos os gestos e todas as atitudes de qualquer coisa que nem somos, nem pretendemos ser, nem pretendemos ser tomados como sendo.
Comprar livros para não os ler; ir a concertos nem para ouvir a música nem para ver quem lá está; dar longos passeios por estar farto de andar e ir passar dias no campo só porque o campo nos aborrece.

94.

Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir - é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida.
Apagar tudo do quadro de um dia para o outro, ser novo com cada nova madrugada, numa revirgindade perpétua da emoção - isto, e só isto, vale a pena ser ou ter, para ser ou ter o que imperfeitamente somos.

Sugiro República de Fiume