segunda-feira, 14 de março de 2011

julinho, eu te amo

Cena de novela: frustração zero. O mocinho, em fase de resolução interna, assume seu velho sentimento. E, em meio à plateia da festa de casamento, grita: “Julinho, eu te amo!”. As damas de honra, todas moças, vestidas de rosa, congelam suas feições, boquiabertas e um tanto desanimadas.

O Julinho - snif - fragilizado, emocionado, que outrora odiava esse ser um tanto dúbio e inseguro, sorri docemente e o abraça. Somente o abraça, pois a tevê sessentona ainda não arrisca um beijo entre pessoas do mesmo sexo. Ou arrisca? Não sei, mas o casal gatíssimo que protagonizou essa cena não se beijou, não se apertou, não chorou, apenas se abraçou. Como fraternos irmãos.

Não fossem dois homens, seriam Julinho e “Julinho, eu te amo” os típicos protagonistas daqueles folhetins do século XIX, estilo Helena. Claro, eles têm o essencial para um desfecho de novela: a confiança da declaração de amor. A pessoa diz o que sente, sem medo de levar um fora, e corre para o beijo – ooops! – para o abraço!

Eu, estendida no sofá, semimorta, depois de um dia duro de trampo, sessão de psicanálise e muitos quilômetros no pedal, só queria aquele momento. Para rir.

Ah, gente, é claro que tentei fazer isso (“fulano, eu te amo!”) algumas vezes na minha vida, né? E é óbvio que quebrei a cara. Seres humanos de carne e osso dão tanto azar com esse tipo de iniciativa que sempre se declaram para a pessoa errada. Conta um caso diferente que eu digo: aconteceu, mas na novela!


ps.: Não vê novela? Vê só o clichê que está perdendo!

domingo, 13 de março de 2011

depois de dois anos...

... estudando um dos mitos da comunicação - a possibilidade de formar "sujeitos históricos" por meio do uso das mídias (faz-se a luz!) na educação - percebo que o problema da crítica é:

a) crítica, enquanto práxis, ação do ser diante do todo social, quanto mais se reproduz, mantendo-se crítica, mais torna-se cultura exata e total; mais é positiva para a negatividade que a contém.

b) crítica, enquanto negação, quando feita sob métodos, menos se nega, de fato; mais é repetição de um modo outrora contestatório e agora já incorporado.

c) crítica, enquanto ação comunicativa, então, essa sim já é resultado do embalsamado em seu lugar social: esvaziada, fazendo efeito.

d) crítica, enquanto exigência de formação, também é performance. aliás, é mais performance do que desempenho. é a inteligência manifesta: aquela deformada pela conformação.

e) crítica, enquanto objetivo, é saber de si em pequenas ilusões; é efetivar o tipo do "intelectual" novo, subalterno, que dificilmente enxerga além de seu bloco histórico (ou seja, todos nós).

dúvidas: se a visão da crítica e dos seus "efeitos" é negativa, o que se há de fazer? abandoná-la, ainda que inexista? ou mantê-la sempre a partir do benefício da dúvida?


(hum, pensei alto... bloquinho de notas. academicismo barato. precisava desabafar e nada mais. pode esquecer!)

no ar



terra
de ampulheta quebrada
escorre por entre dedos
azul levemente sal
revela que tudo
é dito
ainda que não
existam palavras

adequadamente
o que se tenta
é intento
sem forma, sem jeito
sonho, berro ou engano

cacos nas palmas
o tempo passou
ampulheta quebrada
corte e cicatriz
dor é tão seca
azul docemente
mente
sem fim

estancada: pequena loucura
é tempestade
em copo de pinga
é nada que ocorre
a não ser em seus sonhos
vagos, temerosos
azul de amargura
a vida que cuida