domingo, 30 de outubro de 2011

rio de janeiro, junho de 2010

Encontrei um papel rabiscado, dobrado, no vão das folhas de um caderno que estava prestes a ser enviado para o serviço de reciclagem. Abri. E me deparei com impressões sobre uma localidade que muito me traz boas recordações. Achei por bem registrar.


Sobre vozes e lugares

Alimento ideias sobre onde estou. E tenho lembranças que me remetem a contos, personagens, canções, filmes. Há muito estou na Central do Brasil, ainda que tenha fincado os pés neste espaço somente agora. E o que é a Central quando a noto por meus sentidos, sem representações?

O lugar sem paradas. Não há cadeiras para um breve descanso. Pelo alto falante, a locutora da rádio informa o próximo embarque. A mãe ensina os filhos a vender goiabada por um real. Um real também vale um chocolate, uma lâmina de barbear, um café. O trabalho das pessoas.

Duas jovens levam um senhor, cego, ao serviço de informações. A moça do balcão recebe quem chega. O vaivém é grande. Os sujeitos estão certos de onde vão. O som alto da Central não me deixa ouvir nitidamente as conversas recorrentes, mas todos têm o que dizer.

Caminho. Vou seguindo rumo ao centro comercial da cidade.

Minutos depois, estou na Uruguaiana e, em seguida, na esquina do Saara. As cornetas anunciam o evento de amanhã: o primeiro jogo da copa do mundo. A indicação dos ambulantes é que todos se preparem, com camisas e firulas. Outra rádio informa as horas, uma e vinte da tarde, e também as promoções. Por aqui, onde estará a voz das pessoas?