terça-feira, 7 de setembro de 2010

emancipação e (para o) culto

“O historiador italiano Carlo Cipolla, em seu estudo Letramento e desenvolvimento no Ocidente (1969), deu ênfase à contribuição da capacidade de ler e escrever para a industrialização e, mais genericamente, para o “progresso” e a “civilização”. Sugeriu que “a difusão da capacidade de ler e de escrever significa... uma atitude mais racional e mais receptiva diante da vida”. O trabalho de Cipolla é representativo de uma fé na “modernização” típica de meados do século XX, crença subjacente às campanhas de alfabetização organizadas pela Unesco e pelos governos de países do Terceiro Mundo, como Cuba”.

BURKE, Peter & BRIGGS, Asa. Uma história social da mídia. RJ: Zahar, 2006. p. 14






“O novo Citroën incontestavelmente cai do céu, na medida em que se apresenta, de imediato, como objeto superlativo. É preciso não esquecer que o objeto é o melhor mensageiro da sobrenaturalidade: há facilmente no objeto ao mesmo tempo perfeição e ausência de origem, fechamento e brilhância, transformação da vida em matéria (a matéria é bem mais mágica do que a vida) e, em suma, um silêncio pertencente à categoria do maravilhoso”.

BARTHES, Roland. Mitologias. RJ: Difel, 2003. p. 142.




segunda-feira, 6 de setembro de 2010

"contra os que têm resposta para tudo"

Elaboramos bem o discurso
para justificar a falta de entrega para com as experiências,
o outro,
para com nossa própria (des)identidade.

Nos tornamos frios como solução para nossas misérias - internas e externas.
Assim passamos a crer, severamente, em autodefesa.
Assim escondemos nossas fragilidades, principalmente, de nós mesmos.
E buscamos a liberdade que, em verdade, é dominação.

Alguém já disse: liberdade e dominação pressupõem autoconhecimento
e autoconhecimento pressupõe mitos abundantes do que já foi desencantado.
E o que foi desencantado é que produz respostas.
E são essas respostas para tudo o que buscamos todos os dias,
quando nos justificamos
ou agimos de modo orientado
a nos justificar.

Somos uma enlameada retórica.

O que devemos ser?
Talvez um caramujo, movendo lentamente, balançando as antenas devagar.
Devagar nesse mundo?

Sabemos, talvez, o que não é,
que parece ser.
E isso nos conforta, importa, nos faz soltar palavras.
Vazias, por sinal,
sem experiência.
De algo que vivemos, mas não sentimos.
Nem concretizamos.
Que idealizamos com carinho e perfeição,
mas executamos nas bases da dominação.

Repeteco!

Porque é a dominação (de novo!) a mesma a nos formar e deformar.
Nos faz estarrecidos e ilude.
E quando "descobrimos" tudo isso, o que fazemos?
Nada.

Ainda não descobrimos,
já que descobrir requer crença
no mito da descoberta.
E cremos nesse mito,
mas é melhor
para a nossa autojustificativa
dizer que não cremos.



Nota: Este texto é uma interpretação livre da Dialética do Esclarecimento, que Theodor Adorno e Max Horkheimer publicaram em 1947; obra que gosto muito, que ainda compreendo pouco e que me influenciou bastante nos últimos tempos.