sábado, 18 de junho de 2011

los perros


Conversa interessante é sobre cachorros. Seus pelos sempre são macios e seu olhar desenvolve no outro, quase que automaticamente, meiguice e confiança. Eles são seres superiores, estão sempre dispostos a perdoar. Isso é amor de verdade. Na escala evolutiva das almas, sobrepõem-se até à vaca. Mas, há experiências que nem Skinner gostaria de ter feito. Algo mais do que jogar a bola azul na grama verde. E então esses seres superiores tornam-se também raivosos. Há casos. Podem, ainda, nascer fluorescentes, como o Super Homem, cheios de traumas e produtos tóxicos correndo junto ao sangue. Dependentes de tecnologia. De modo que, por favor, não deixe um animal como o cão nas mãos dos humanos! Isso pode ser fatal à doçura do bicho. Perros, pelas ruas, pelos becos, deitados aos pés das pessoas, desapercebidos, vão melhor. Quando respeitados, independem até da carne de lata. Seu cheiro é de vida. Rolam na terra quando voltam do pet shop. São, sim, superiores!

sexta-feira, 17 de junho de 2011

pensamento

Caderno azul para as ideias referentes aos estudos. Bloquinho branco com amarelo para as ideias referentes ao trabalho. Mas, o trabalho está parado. Mas, os estudos também. Mas, o trabalho e o estudo somam-se quando uso instrumentos da reportagem na dissertação e vice-versa. Autores que se complementam, muito embora já me alertaram para a diferença das linguagens. Mas, estudo e trabalho são tão penosos e tão prazerosos. Mas, campo e cidade têm, da mesma forma, a mesma conexão. E se não fosse eu uma pseudo-etnógrafa sem método? Ou, melhor dizendo, e se não fosse eu repórter? Teria necessidade de dois cadernos para abrir e fechar em tempos diferentes? Por que, cada vez mais, quero fazer ciência-reportagem e monografia-superfície? Uma confusão de pensamento que quando é fé tem um projeto de pesquisa semi-estruturado em pura ansiedade. E uma notícia pelas metades. E vários relatos de experiência sem transcrição. Do que desistirei primeiro: do singular ou do particular? E agora, "meudeus", é greve!

domingo, 12 de junho de 2011

das surpresas

Em 2006, pela primeira vez na vida, depois de 2 anos de formada, uma especialização recém-encerrada e muitas ilusões, entrei em uma sala de aula. Virei professora, quase que por acidente. Não sabia o que pensar e sequer como agir. Mas, assumi aquela postura da maioria fraca e inexperiente: tentei ser séria e me sentir superior. Não deu certo, claro. Logo nos primeiros encontros com a turma, vários foram os estudantes que me desmontaram. Entre eles, Cristiane e Amabile. A primeira me levou para o Bar do Laranja. A segunda, tirou alguma onda me chamando de "tia" e ainda gritou: meu nome não tem acento!

A Cris me cativou desde o início, com sua calma e sensibilidade. Muito rapidamente tornou-se a melhor companhia que eu poderia ter naquela cidade de gaúchos expatriados. Dividimos livros, discos, filmes e referências sobre o Pequeno Príncipe. Passeamos por Porto Velho e até pelo Rio de Janeiro! Ela foi embora para Cuiabá um ano depois, salvo engano. Mas, voltou a Vilhena algumas vezes e nunca deixamos de dividir as angústias sobre os namorados malfadados ou os problemas de família. Muitas vezes eu prometi que a visitaria, nunca fui.

Já com a Amabile foi terror à primeira vista. Ela falava alto e sempre soltava alguma frase indevida. Quando não passava vergonha em mim, criava caso com outra pessoa. No início, interpretei suas atitudes como prepotentes. Depois vi que era pura sinceridade. Me equivoquei: aquela falastrona toda não segurava a própria espontaneidade. Menina durona, menina doce. Enfim, menina. Não saiu mais da minha casa e foi a única a levar o projeto da rádio na escola a sério e até o fim. Certa vez, em 2008, na Bolívia, tivemos uma briga tão feia que ela chorou muito, arrumou a mala e simplesmente foi embora. Pedi desculpas de forma descrente. Até hoje ela diz: "você é chata, mas...". Não guarda sequer os próprios segredos. Tem o coração mais apto a perdoar que já conheci.

Vim embora de Rondônia há pouco mais de dois anos. Pensei que nunca mais veria Cris, Amabile ou quem fosse. Muitas vezes supus, aliás, que apesar de ter gostado de muita gente que vive ou viveu naquele estado, seriam todos, sim, ex-colegas, ex-amigos, ex-conhecidos ou ex-qualquer outra coisa. O trauma me impediu de manter vínculos, mas é claro que essa austeridade não durou muito tempo. E se sequer controlei a sala de aula, imagina se iria fazer isso com a vida?!

No início deste ano, combinamos de ir a Cuiabá. O "motivo" era um congresso da Comunicação que teria no mês de junho. Deu certo, apesar de a Cris até o último momento duvidar que eu iria - com toda razão. E quando as reencontrei, naquele pátio da UFMT, esvaziado pela greve, parecia que nunca havíamos deixado uma a rotina da outra. Estávamos Cris e eu, novamente, dividindo as dores; estávamos Amabile e eu, num repente, trocando carinhosas farpas; estávamos as três falando, falando, falando mil coisas ao mesmo tempo. E ouvindo, é claro.

Engraçado como foi notar a cumplicidade. Isso não tiramos da instituição escolar, infelizmente, mas sim da vida. Na hora de partir, deixando minha alma em Cuiabá, foi que senti em dois abraços o sentimento de amizade. Ex-alunas? Não. Sempre foram, sim, amigas. Obrigada, queridas, pelo reencontro!

o que é intelectual?

N'outro dia, apresentei trabalho em um congresso e usei a expressão "intelectuais de um campo". Na hora dos comentários, alguém considerou que eu estava falando de uma "elite" e, pior, que me inseri nesta elite. Isso me incomodou. E pensei se não deveria ter explicado melhor a que me referia.

N'outra ocasião, ao assistir a um debate sobre "pesquisa empírica" estabelecido entre três professores, percebi que o discurso deles caminhava 300 anos atrás e se revestia de "rigor" e "neutralidade". A Comunicação agora está querendo ser "ciência dura"? E para quê? Perguntei aos três se a minha impressão estava "correta". Eles me contaram toda a história do Positivismo, mas em nenhum momento disseram "sim" ou "não".

Pois é.

Diante desses ocorridos, é preciso demarcar que quando leio "intelectual" não entendo "gente que usa o intelecto" (afinal de contas todo ser humano faz isso o tempo todo, em todas as atividades e mediações) e nem entendo "pessoa que integra a comunidade acadêmica e que ensaia pesquisas". Entendo, sim, "criador, organizador e disseminador da cultura", das ideias que formulam visões de mundo, hegemônicas ou não, como definiu Antonio Gramsci. Então quando leio "intelectual" não entendo um ser superior e/ou privilegiado, mas sim um ser social que está rente na "batalha de ideias".

Essa diferença tem de ser destacada pois deve estar claro o posicionamento político desse trabalhador - o "intelectual". Basta de neutralidade!