sábado, 21 de maio de 2011

percepção em oito tempos

era para o mundo acabar, mas eu estava num palquinho de madeira, debaixo de uma tenda de circo, lá na pracinha da rua mil e treze, no setor pedro ludovico. a meninada da vizinhança acompanhava tudo de perto. repetia a contagem dos passos. seguia as respirações com palmas. a lu falava segurando um megafone, brava, nervosa, como todo diretor cênico parece fazer em dia de ensaio geral. e rodopiávamos de improviso, com medo de cair, pensando sobre como seria no dia da apresentação. algumas pessoas estavam bem mais seguras que outras, é claro. não almocei, pedalei 40 minutos para chegar nesse lugar. tardei horas pensando na flor azul que iria na cabeça. pintei as unhas de vermelho. e todo aquele frio-quente interior de quem faz uma atividade pela primeira vez. algo tão desafiador quanto uma paixão recente. que me faz perceber como é bom ser experimentadora de vida, aprendiz de gente, estudante de movimentos, investigadora de sensações, testadora de corpos. curiosidade que me aplaca, enfim, é por essa tal de "autonomia do sujeito, no mundo e com o mundo". que ora está no livro, ora está na dança; que ora é da concentração individual, ora é da conspiração coletiva; que ora falta em mim, ora vem desde criança. obrigada, lu, por esse despertar!